Os meninos pobres brincam antes do carnaval em Olinda. Enquanto o sábado não vem, eles se vestem nas suas fantasias de meninos.
Eu os vi primeiro, quando vinha chegando em casa, a semana passada. A foto não diz o que eles me disseram, dentro de mim. Eu senti: eu já fui um desses meninos. Não sei se estou ali com a cabeça de papelão, ou se estou segurando a lata. Mas como estou contente, quanta felicidade nessa máscara pobre, malfeita, de papel !
Lembrei, num golpe súbito de memória, quando saía batendo uma lata, a cantar “a la ursa quer dinheiro, quem não der é pirangueiro”. Todos eram pirangueiros, porque sempre voltávamos pra casa com uma só moeda.
Esses meninos me dizem, sem que falem, somente com as suas carinhas: às vezes homens e mulheres voltam a ser meninos. É quando pensam, no meio do carnaval, que são felizes, muito felizes. Então ficam esquecidos de tudo e voltam a ser como nós, porque estão bêbados, sorrindo, como aqui. “Quando se vai um amor, desses que a gente quer bem....”.
Meninos pobres, meninos felizes, meninos esquecidos de tudo. Meninos em folia.
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